4000 Horas de imagens para produzir os 90’’ do novo anúncio da Nike
Para produzir o mais novo anúncio da campanha «You Can’t Stop Us» que a marca desportiva norte-americana Nike lançou na sequência do Covid-19, e do movimento «Black Lives Matter», foram vistas 4 mil horas de imagens desportivas.

Milhares de planos, observados com detalhe para que uma vez unidos – ou, se preferirmos separados – no mesmo plano despertassem nas audiências a poderosa emoção que tem levado pessoas em todo o mundo a partilhar este vídeo.
O vídeo – o terceiro da campanha 360 com o mesmo nome – com locução feita pela capitã da seleção feminina de futebol norte-americana Megan Rapinoe mostra 24 modalidades, e 53 atletas, entre eles a própria narradora, a par de Serena Williams, Colin Kaepernick, Lebron James, Kylian Mbappé, e Cristiano Ronaldo, entre outros.
O impressionante trabalho de edição serve a forte mensagem motivacional. Ginásios fechados, competições suspensas e estádios vazios contrastam com ambientes pessoais demonstrando que um atleta não pára. A ação desenvolve-se através de uma sequência de split screens protagonizados por 36 pares de atletas cujo movimento se entrelaça. O resultado ilustra o tanto que existe de comum entre os atletas independente de raça, credo ou orientação sexual.
O split screen faz parte do leque de efeitos disponíveis há algumas décadas. Trata-se basicamente de uma técnica de edição que roda em torno do dividir mais ou menos perceptível da imagem mostrada no écran. Tradicionalmente é fragmentado em dois, mas pode ser em múltiplas imagens. A ideia é jogar com diferentes pontos de vista, acções e ritmos acrescentando profundidade à narrativa visual e à forma como a história é contada. Desde o final dos anos 60 este artifício tem sido usado em filmes, videoclips, jogos, noticiários, e na publicidade. Agora, os criadores reciclam a técnica usando-a sobretudo para construir mensagens que têm como ideia central a «conexão». Dependendo do objectivo os quadros podem assumir um aspecto gráfico definido ou o plano pode ser intencionalmente bizarro.
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«Simmetry», uma curta-metragem documental feita pelo colectivo nova-iorquino Everynone foi um fenómeno de popularidade. O vídeo de 3 minutos é uma mescla de diferentes intenções expressas pelo uso do «split screen» e reflecte sobre a questão: O Mundo está cheio de simetrias, e portanto ordenado em pares, ou vivemos num universo assimétrico? Os limites aplicados no uso do «split screen» são graficamente definidos e muito explícitos. Apesar das imagens se sucederem em relações de opostos dois écrans são visíveis ao longo de todo o vídeo.
Outro bom exemplo de uma curta-metragem que assenta no uso desta técnica, e também se tornou viral chama-se, de facto: «Split Screen: a Love Story». O vídeo que ronda os 2 minutos conquistou primeiro o coração das pessoas no Festival Internacional de Cinema em Edimburgo, e depois na web. Neste caso as fronteiras entre as imagens não são claras e o «split screen» torna-se notório pela diferença explícita entre elas, apesar de mostrarem o mesmo tipo de situações. O resultado final deixa uma sensação de estranheza.
Regressemos no tempo: a técnica de edição de vídeo chamada «split screen» teve a sua arena de influência na Feira Mundial de Nova York, 1964, EUA, quando os designers Ray e Charles Eames apresentaram o filme desenvolvido para o «Pavilhão do Pensamento» da IBM simultaneamente em 17 écrans. O impacto da iniciativa abriu caminho para o que sucedeu na Exposição Universal de Montreal, 1967, Canadá, onde a National Film board apresentou uma instalação de dezenas de écrans que emitiam a película de 79 minutos «In the Labyrinth»». Saudada pela revista «Time» como «uma deslumbrante montra visual» a exposição foi o ponto de viragem na experimentação do «split screen»
Desde então inúmeros realizadores usaram este efeito para justapor emoções, traduzir lapsos espaciais ou de tempo, e numa perspectiva banal apresentar uma conversa telefónica. Brian de Palma (1940), cineasta americano, incorporou vários «split screens» em muitos dos seus filmes, de tal forma que o efeito se tornou sinónimo do seu estilo cinematográfico: «As Irmãs» (1973), «Blow Out» (1981) e «Olhos de Serpente» (1998).
Também em televisão é possível ver exemplos do uso do «split screen» especialmente desde que a tecnologia digital tornou a divisão do écran um efeito fácil de obter. Os programas noticiosos com frequência mostram os repórteres em «split screen». A estação noticiosa CNN tem na utilização deste efeito um dos seus principais traços editoriais. Também ao nível da ficção os exemplos sucedem-se. Por exemplo, a série «24 horas» produzida pela Fox TV tem no uso do «split screen» um dos traços fundamentais da sua estrutura: os eventos são mostrados em simultâneo, o que reforça o seu elemento de «tempo real» ao mesmo tempo que reúne as múltiplas linhas narrativas que a compõem.